Apesar do tema ser delicado, a família deve abrir um canal de conversa sincero com os mais novos sobre a finitude
Existe um ditado muito conhecido que diz que a única certeza da vida é que um dia ela acaba. Ainda assim, falar sobre ela é um tabu na nossa sociedade, principalmente quando é preciso tocar no assunto com as crianças. Para lidar com o luto infantil, os pais ou responsáveis precisam criar um espaço seguro e acolhedor.
Ana Carolina D'Agostini, psicóloga e gerente de conteúdo da Semente Educação, diz que, para isso, é importante tratar com honestidade e clareza o tema com as crianças, quando acontece o óbito de um ente querido. “É preciso ser sincero e explicar que a pessoa não voltará, mas que estará sempre na lembrança”, diz. “A família, a partir da sua crença ou não, pode esclarecer como enxerga esse fim da vida e incluir os pequenos nos rituais de despedida”, completa.
É comum que as crianças, com a curiosidade aguçada, façam perguntas, até para tentar entender o que estão sentindo. “O adulto deve trazer a verdade e responder aos questionamentos de uma forma leve e fácil. Se não souber a resposta, está tudo bem parar para pesquisar mais sobre o tema, buscar ajuda e depois retomar o papo”, tranquiliza Ana.
Também está tudo bem em o adulto expressar e compartilhar com as crianças suas emoções diante da perda, sempre reafirmando que a família está unida para dar apoio e ajudar a passar pelo processo de luto.
Estratégias para trabalhar o falecimento com as crianças
Sandra Dedeschi, gerente pedagógica da Semente Educação, sugere que os pais evitem o uso de ideias fantasiosas ao falar sobre o falecimento com as crianças. “Dizer que a pessoa virou estrelinha pode dificultar que elas entendam o fim de um ciclo”, explica. Ela sugere usar elementos da natureza para trabalhar essa questão. “Temos o exemplo da plantinha, que começa com uma semente que germina, vai sendo cuidada e depois morre. Algumas duram mais, outras, menos, assim como as pessoas”, diz.
A especialista diz que é importante mostrar para os pequenos que a tristeza por não poder mais ver uma pessoa querida é válida. “A saudade, que é um misto de tristeza e amor, pode ser um sentimento negativo durante o momento de sofrimento, mas ela também pode ficar mais leve ao ser atrelada a boas lembranças”, explica.
Para trabalhar essas emoções e simbolizar o luto, Sandra diz que os adultos podem pensar em estratégias, como fazer com a criança uma caixa de memórias. Guardar objetos significativos da pessoa que se foi pode ajudar a lembrar dela com carinho. Outra forma de fazer isso é montar um álbum de fotos, com registros de bons momentos vividos ao lado da pessoa. Mais um exercício interessante é estimular os pequenos a desenhar algo para quem se foi ou, se a criança já for alfabetizada, escrever uma cartinha para colocar no papel todos os seus sentimentos.
Os adultos ainda podem usar filmes e livros como sensibilizadores para tratar do tema. No audiovisual, as animações “Up: Altas Aventuras”, da Disney, e “Abominável” são ótimos exemplos. Na literatura, as indicações são obras como “O livro do adeus”, de Todd Parr, “Estava Indo Tudo Bem”, de Cynthia Borges de Moura, “A Colcha de Retalhos” e “Os Porquês do Coração”, ambos escritos por Conceil Corrêa da Silva e Nye Ribeiro.
Vale lembrar que o luto infantil, assim como o adulto, é um processo natural, diante de uma de perda significativa. Cada pessoa tem a sua forma e tempo para lidar com ele. Acolher, conversar e mostrar que a criança pode contar com o apoio da família é fundamental. Agora, quando o sofrimento se prolonga por muito tempo, é importante procurar ajuda profissional para que a criança possa retomar a vida normalmente.