Especialista aponta algumas ações e competências emocionais que podem auxiliar o educador nos momentos de agressão contra professores
O índice de violência contra professores demonstrou um aumento nos últimos anos. De acordo com dados da OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, em 2014, 44% dos professores relataram que já tinham sofrido algum tipo de violência no ambiente escolar. Em 2017, essa porcentagem subiu para 51%. E, 2019, chegou a 54%.
Normalmente, os professores são fundamentais para transformar a escola num ambiente seguro. Por isso, quando o educador é a vítima da agressão, não é fácil saber quais ações são efetivas para lidar com a situação.
Ana Carolina D`Agostini, Mestre em Psicologia Educacional e gerente de conteúdo do Programa Semente, apresenta algumas técnicas e competências socioemocionais que os professores podem utilizar para prevenir agressões e, em casos mais graves, defender-se delas.
Por que a violência escolar está aumentando?
É difícil apontar um único fator para o aumento do índice de violência contra professores. Ana Carolina afirma que se trata de um problema complexo, influenciado por uma série de variáveis, mas que existem alguns pontos que precisam ser levados em consideração.
“Primeiro, acho que houve um aumento do desrespeito ao papel e à imagem do professor”, diz Ana. “Tanto a educação como os professores passaram a ser colocados contra a parede, num constante questionamento, e isso pode ter gerado certa desvalorização, o que pode provocar distanciamento, conflitos e, algumas vezes, violência.”
A especialista também aponta que os problemas crescentes de saúde mental dos estudantes podem refletir na escola quando não existe um apoio por parte da família. O aumento do cyberbullying, após a expansão tecnológica na pandemia, é outro fator que contribui para a agressividade.
Como prevenir e se defender?
Ana Carolina afirma que, em um primeiro momento, é importante que a escola promova estratégias de prevenção da agressão física ou verbal, seja entre os colegas, seja contra os professores. Assim, o docente deve levar em consideração a política e as recomendações da escola, bem como a comunicação com as famílias e os problemas de cada aluno.
Sabendo disso, nos momentos em que a violência está em ação, é importante que o professor consiga se afastar da situação e pedir a ajuda das pessoas corretas. “Se está acontecendo algo ali no momento, primeiro o professor precisa reconhecer as emoções que são despertadas naquela interação tensa e tentar manter a calma para não reagir como violência também, porque isso pode tornar a situação ainda mais complicada”, afirma.
A especialista também cita a estratégia da comunicação não violenta, para que as pessoas consigam entender os sentimentos e as necessidades do outro. Ela sugere que o professor faça uma conversa no começo do ano de “combinados da classe”, na qual todos podem participar e pensar juntos no que fazer em algum eventual caso de agressividade durante o ano letivo.
Quais competências socioemocionais utilizar?
O aluno que sente a necessidade de utilizar a violência para se comunicar em sala de aula pode apresentar a falta de algumas competências socioemocionais, como a modulação da raiva e do medo. “Muitas vezes, estudantes que não conhecem maneiras de resolver os seus conflitos de forma saudável podem recorrer à agressão como uma forma de sanar aquele problema ou de externalizá-lo”, diz Ana.
Por isso, certas competências são relevantes para resolver esses problemas e fortalecer o vínculo entre o professor e o aluno. Dentre as famílias de competências, as principais para essas situações são:
• Engajamento com os outros: a iniciativa social, a assertividade e o entusiasmo são importantes para formar relações comunicativas entre o estudante e o docente, o que posteriormente serviria para resolver os eventuais conflitos.
• Amabilidade: a empatia, o respeito e a confiança são essenciais para que existam conversas saudáveis, num ambiente harmônico e acolhedor.
• Modulação emocional: o controle do medo, da raiva e da tristeza por parte do aluno poderia diminuir os conflitos e auxiliar o estudante a lidar melhor com as próprias emoções.