O diálogo claro e acolhedor é essencial para criar e fortalecer uma relação de confiança com as crianças
A forma como os pais e responsáveis se comunicam com as crianças e com os adolescentes tem sido objeto de reflexões. Um estudo publicado pela revista ScienceDirect levantou dados de mais de 14 mil artigos sobre a comunicação parental e o bem-estar dos filhos. Os pesquisadores concluíram que, ao enfrentar questões relacionadas a dietas, imagem corporal, saúde sexual, atividade física e bullying, as crianças com pais que se comunicavam de maneira aberta e acolhedora lidaram melhor com essas situações.
Sandra Dedeschi, mestre em Psicologia Educacional e gestora de conteúdo da Semente Educação, também aponta que é muito comum ouvir queixas dos responsáveis sobre falarem inúmeras vezes acerca dos mesmos temas com seus filhos e filhas e eles continuarem com os mesmos comportamentos. “Tal contexto nos faz pensar a respeito da necessidade de rever a forma como estabelecemos a comunicação com eles”, observa.
Dicas para se comunicar de forma saudável com os filhos
Esses exemplos indicam a importância de prestarmos atenção na maneira como falamos com as crianças e os jovens e como os ouvimos. A especialista dá algumas orientações que favorecem uma comunicação mais eficaz:
- Ser firme: isso não significa ser autoritário e nem usar de tom de voz elevado, mas sim expor as ideias de maneira sólida e segura.
- Ser breve: tanto as crianças como os adolescentes pouco absorvem os longos sermões, por isso a brevidade nas palavras é fundamental.
- Ser claro: apesar das poucas palavras, é preciso transmitir uma mensagem com clareza para que o jovem a entenda sem ambiguidades.
“Também é importante usar palavras que descrevam o que estamos vendo, sentindo e pensando, evitando falas que demonstram julgamentos aos filhos ou à sua personalidade”, afirma Sandra. “Em vez de dizer ‘você só faz bagunça, nunca coloca nada no lugar’, prefira ‘os materiais e os jogos precisam ser guardados no lugar certo’, ou ainda ‘o quarto está bagunçado, é preciso colocar as coisas no lugar’”.
A gestora também explica a diferença entre conversar e dialogar. “O diálogo requer o papel ativo dos envolvidos, enquanto a conversa geralmente coloca os filhos e filhas numa posição mais passiva — ou às vezes defensiva —, dificultando o estabelecimento de relações entre suas atitudes, emoções e consequências.
Por isso, uma outra dica aos adultos é procurar fazer boas perguntas, em vez de dominar as falas e deixar as crianças e adolescentes apenas como ouvintes. “Para responder às questões, o sujeito precisa refletir. Dessa forma, poderá estabelecer relações sobre os acontecimentos e pensar sobre suas ações”, diz Sandra.
Os impactos da comunicação na vida das crianças e dos jovens
A especialista ressalta que a forma como os pais se comunicam com seus filhos cumpre um papel importante para a construção de relações pautadas em confiança. “Acredito que estabelecer uma comunicação em que as emoções de todos os envolvidos sejam consideradas e que as palavras sejam utilizadas de forma respeitosa e assertiva possa causar um impacto positivo na relação entre pais e filhos”.
Já a falta de confiança devido a julgamentos e descontrole por parte dos adultos, bem como a obediência por medo da autoridade, dificultam os relacionamentos entre familiares. Vale ressaltar que comunicação aberta não significa permissividade e falta de autoridade com filhos e filhas, mas sim um compartilhamento de pontos de vista de maneira atenciosa e construtiva.
Sandra conta que, com o tempo, as crianças e adolescentes inseridos em uma família que se comunica de forma respeitosa e assertiva, além de manter relações mais equilibradas e de confiança com seus familiares, reproduzem a mesma forma de falar com as outras pessoas com quem se relacionam. “O contrário também é realidade: ao gritarmos com as crianças quando acontece algo que nos desagrada, passamos uma mensagem que, quando temos um conflito, podemos resolver com gritos. Quando elas estão diante de um problema com um colega, por exemplo, podem usar desse mesmo recurso para enfrentar a situação”.