Conhecimento socioemocional auxilia o desenvolvimento de condutas responsáveis
O primeiro de abril recebeu a efeméride do dia da mentira por causa de uma mudança no calendário cristão, feita pelos franceses no século XVI. Na época, a passagem do ano deixou de ser comemorada durante a chegada da primavera do país (em abril) para ser festejada em janeiro. A antiga data, portanto, transformou-se em um dia para fazer pegadinhas. Assim, surgiu o dia da mentira.
Mais do que simplesmente pregar peças nos outros, a mentira pode abranger significados muito mais complexos, que são prejudiciais para a convivência harmônica em sociedade. Entender quando e por que as pessoas começam a mentir, portanto, é pensar sobre a forma como a sociedade se relaciona com as trapaças e também refletir sobre como o ensino da honestidade pode ser levado aos mais novos.
Quando se fala de crianças muito pequenas, precisamos lembrar que elas vivem uma fase em que o mundo da fantasia é muito forte. Mas em que época da vida a mentira inocente se transforma em desonestidade?
Segundo Eduardo Calbucci, professor e fundador do Programa Semente, essa fronteira nem sempre é clara porque, de certa forma, a mentira faz parte do comportamento humano. “A grande questão é saber quais são os pensamentos que usamos para justificar as trapaças no dia a dia e continuar acreditando que somos honestos”.
A mentira faz parte do comportamento humano, e o primeiro passo para educar crianças honestas é tratar dessa questão. É a história de não devolver o troco errado, de furar fila ou colar na prova. No final das contas, o problema está nas explicações que damos para cometer essas trapaças.
O professor afirma que essas pequenas desonestidades precisam ser vigiadas. “É importante ficar atento para quais justificativas damos aos pequenos atos de desonestidade. A naturalização disso pode ser o ponto de partida para mentiras maiores”, ressalta. Nesse sentido, o conhecimento socioemocional pode desenvolver nos jovens a capacidade de entender se a sua conduta é boa para o outro e para a sociedade.
“Uma atitude desonesta isolada pode não ter consequências graves, mas, se todo mundo fizer a mesma coisa, isso se torna extremamente prejudicial. É nesse momento que a gente ensina a criança a avaliar as pequenas condutas individuais. Na verdade, elas não são completamente individuais, pois seus efeitos são sentidos por todos. Esses pequenos atos de desonestidade são perigosos porque, se forem naturalizados, uma hora podemos perder o controle. ”
Pactos com a criança
Uma das formas mais eficientes de ensinar uma criança a não mentir é pelo exemplo. Pais que mentem com frequência podem, sem perceber, estimular atitudes desonestas nas crianças, que aprendem por imitação. Além disso, funciona criar códigos de conduta, com a participação delas, para elas se sentirem envolvidas. Se a criança participa desses pactos, é mais fácil aceitar aquelas regras.
“É necessário desafiar o pensamento que justifica a trapaça, para que ele não seja automatizado. Um dia ela (a criança) vai se pegar cometendo pequenas desonestidades, mas estará vigilante. Quando chegar o momento, ela terá mais elementos para optar pelo caminho da honestidade, mesmo que ele seja mais doloroso”, completa Calbucci.