A Autogestão, a Modulação emocional e o Engajamento com os outros ajudam a lidar com sentimentos como tristeza, medo e ansiedade
Em todo o mundo, um em cada sete jovens de 10 a 19 anos sofre de transtornos mentais, como depressão e ansiedade, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Metade dessas condições começa aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada, estendendo-se à idade adulta, prejudicando a saúde física e mental e limitando futuras oportunidades profissionais.
Não existe um único fator que possa impedir o surgimento desses transtornos ou o seu agravamento. Mas, entre as principais medidas que a ciência aponta para a prevenção dessas condições está o desenvolvimento das competências socioemocionais.
“Quando colocamos a aprendizagem socioemocional como um eixo norteador da escola, do aprendizado ao longo da vida, damos a esses jovens, desde a infância, ferramentas para lidarem melhor com a vida e seus desafios”, diz Ana Carolina D’Agostini, mestre em Psicologia Educacional e Gerente Educacional da Semente Educação.
Estudos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram o impacto da aprendizagem socioemocional na modulação do medo, ligado a transtornos de ansiedade, e da tristeza, relacionada à depressão. Segundo Ana,“as pesquisas também relacionam o desenvolvimento das competências socioemocionais ao aumento da sensação de bem-estar e da melhoria da saúde mental de crianças e adolescentes.”
Prevenção de transtornos mentais
Ana Carolina explica que quando uma criança ou um adolescente aprende desde cedo a nomear, reconhecer e modular as próprias emoções, ela adquire mais ferramentas para lidar com elas, ajudando na prevenção de transtornos mentais.
Ao desenvolverem competências socioemocionais, os jovens se tornam mais preparados para enfrentar situações de estresse, por exemplo. “Desde aquelas mais cotidianas, como uma prova, o início de um relacionamento ou um conflito entre amigos, até situações mais desafiadoras, como grandes frustrações e mudanças, perdas e até a morte de alguém.”
A Gerente Educacional reforça que desenvolver as competências socioemocionais não significa a cura de transtornos mentais ou a garantia de que eles não vão surgir, pois não há nada capaz disso, mas funciona como um fator de proteção e auxilia no manejo dos sintomas quando esses transtornos já estão diagnosticados. “Também auxilia na autoestima e no senso de pertencimento ao grupo do qual o jovem faz parte, seja na escola, na família ou na turma de amigos. E no autoconhecimento, para pedir ajuda quando necessário.”
Autogestão
A aprendizagem socioemocional também pode contribuir para a Autogestão, que é a habilidade de gerenciar a si mesmo, e inclui competências como organização, foco, persistência e responsabilidade.
Ana Carolina comenta que o desenvolvimento dessas competências permite se planejar melhor, lidar melhor com as distrações, se manter motivado e ter responsabilidade na rotina com as coisas que precisam ser elencadas como prioridade. “Quando essas habilidades estão bem desenvolvidas, elas dão uma sensação de controle sobre a própria vida, o que também é um fator protetivo para a saúde mental”, destaca.
Modulação emocional
A Modulação emocional se refere à capacidade de dar a justa medida para os sentimentos, desde emoções mais comuns até aquelas mais desafiadoras, como medo, raiva e tristeza. “Ao compreender e conseguir regular o que está sentindo, a pessoa tem meios para modular as emoções e não ficar refém delas. Isso pode prevenir, por exemplo, que pequenos estresses se tornem grandes problemas”, ressalta a especialista.
Segundo ela, quando um jovem tem as competências da família da Modulação emocional bem desenvolvidas, ele tende a se recuperar melhor diante de crises. “Ele entende, por exemplo, que a tristeza faz parte da vida, que ela é proporcional a uma série de eventos que podem acontecer, e que a gente tem que acolhê-la. Mas não podemos desejar que ela não exista. Temos que ter ferramentas para cuidar dela, mas sem deixar que ela domine os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos.”
Engajamento com os outros
As competências da família do Engajamento com os outros, como iniciativa social, assertividade e entusiasmo, são fundamentais para que os jovens realmente se conectem com outras pessoas. A ciência já aponta para a importância das relações interpessoais para a saúde mental, desde a infância até a velhice. “A qualidade – e não a quantidade – de relacionamentos saudáveis está ligada não só à longevidade, mas também à presença ou não de transtornos mentais”, aponta a Gerente Educacional.
Com essas competências bem desenvolvidas, o jovem consegue se expressar com mais assertividade, colocar limites, iniciar uma conversa e compartilhar emoções positivas que está vivendo. “Tudo isso ajuda a fortalecer os vínculos com a comunidade da qual a pessoa faz parte e a criar redes de apoio. Além disso, o jovem sente que não está sozinho e que tem com quem contar e em quem confiar”, afirma Ana Carolina.