Combinação de domínios, como autocontrole, empatia e decisões responsáveis, podem prevenir consequências provocadas pelo mau uso da internet
Vivemos na era das redes sociais, em que tudo acontece instantaneamente. A internet pode ser muito útil para trabalhar, estudar e transmitir conhecimentos. Entretanto, quando não utilizada corretamente, pode ser extremamente perigosa, principalmente nas mãos de crianças e adolescentes.
Infelizmente, é comum a ocorrência de agressões virtuais – como o cyberbullying – e outras consequências prejudiciais às crianças e aos jovens. Por vezes, eles são alvos de ataques ou até os causadores da ação, já que a imaturidade e a falta de informação para lidar com uma ferramenta de alcance universal podem causar danos de grande repercussão.
A antropóloga Tania Fontolan, diretora-geral do Programa Semente, acredita que a instantaneidade das redes ofusca o entendimento do que é público (o que pode ser compartilhado) e do que é privado (o que deve ser mantido em sigilo). “Antes, espalhar um boato tinha consequências menos dramáticas. Agora, uma vez divulgado, não há limite de tempo e espaço”. Além disso, Tania pontua que o anonimato e a “distância” que o agressor possui do seu alvo passam a impressão de impunidade. “Temos uma ideia de falsa proteção e falsa realidade, uma sensação de encorajamento. É muito mais fácil ofender alguém virtualmente”, diz.
Um outro agravante é a impulsividade que a rede social induz. Antigamente, era mais complicado compartilhar um boato ou espalhar uma notícia. Hoje, basta um clique. Tania alerta que falta discernimento para analisar notícias e boatos antes de dividir com amigos. “As pessoas não avaliam a questão antes de publicar. A instantaneidade induz ao impulso, e nisso, amplificamos as consequências do assunto em questão”, diz.
PrevençãoComo a internet é imediata, é preciso avaliar todos os pontos e as consequências das publicações: a questão jurídica, a reputação social e o bullying. Para Tania, uma combinação de empatia com decisões responsáveis e autocontrole pode prevenir consequências negativas nas redes sociais. Algumas escolas brasileiras já têm experimentado ensinar a lidar com emoções como as abordadas no Programa Semente – uma metodologia que ensina crianças e jovens a lidarem com as chamadas habilidades socioemocionais.
Numa aula sobre decisões responsáveis, por exemplo, os alunos são orientados a medir as consequências de suas atitudes. “Para isso, ensinamos critérios para avaliar se as decisões que eles tomam são boas ou ruins. Evitamos a dicotomia certo X errado, destacando que o importante não é não errar, mas sim aprender a evitar os erros que se repetem”, explica.
As decisões responsáveis estimulam o aluno a pensar nas consequências que determinado compartilhamento poderia trazer. “Tendo essa visão, a criança sabe que, se publicar algo calunioso, pode ferir alguém, juntamente com compreender que o fato de estar lidando com algo público não lhe dá o direito de ultrapassar os limites da ética, do direito ao próximo e da civilidade. Já o autocontrole a impede de, impulsivamente, compartilhar algo somente porque está na rede, sem analisar os fatos antecipadamente”, exemplifica.
Como a escola e os pais podem ajudar?
Acredita-se que o amadurecimento é um processo gradual, e, por isso, trabalhar o emocional da criança o mais cedo possível é o primeiro passo para que ela cresça hábil emocionalmente. Além disso, quanto menor a faixa etária, maior deve ser o monitoramento do uso das redes, e os responsáveis por isso são os pais, que devem ser o maior exemplo de responsabilidade e empatia para os pequenos.
Os educadores também têm um importante papel nessa trajetória, que é explicar com dinâmicas e de forma didática as consequências da irresponsabilidade, e como praticar a empatia. “Tudo isso cria uma atitude mais responsável diante das coisas. Gera pessoas melhores”, conclui Tania.