* Por Celso Lopes de Souza
Entrar no mercado de trabalho, prosseguir os estudos, exercer a cidadania. Há um consenso, entre os especialistas, de que os 12 anos de Educação Básica devem preparar os jovens para esses três desafios.
Além disso, todos querem que suas filhas e seus filhos sejam realizados pessoal e profissionalmente.
A pergunta que costumo fazer é: apenas com aulas convencionais de Português, Inglês, Matemática, História, Geografia ou Ciências é possível conseguir isso?
Durante muito tempo, acreditou-se que sim.
No entanto, não são raros os casos de estudantes com ótimas notas no Ensino Fundamental e no Ensino Médio que se tornam adultos frustrados e infelizes; analogamente, alunos e alunas com problemas de aprendizado nas disciplinas do currículo tradicional podem ser, no futuro, profissionais bem-sucedidos e cidadãos responsáveis. Convivi com essa realidade muitas vezes, tanto nas conversas com alunos e alunas em sala de aula quanto no acompanhamento de pacientes.
Com efeito, de que adianta saber falar sobre biodiversidade, reciclagem de lixo, democracia, combustíveis renováveis, se a pessoa não é capaz de gerir emoções, de criar empatia ou de tomar decisões responsáveis?
Essas habilidades, essenciais no século XXI, que formam o que chamamos de aprendizagem socioemocional, são valorizadas há muitos anos nos Estados Unidos e na Europa, mas ainda não são desenvolvidas, de maneira estruturada, em muitas das escolas brasileiras.
Talvez exista a crença de que essas habilidades são inatas, como se fossem dons, com os quais a pessoa é simplesmente premiada. Ocorre que as coisas não funcionam assim. É possível desenvolver essas habilidades, ensinando crianças e jovens a debater com respeito, a ter autocontrole, a compreender a diversidade cultural, a traçar objetivos, a cumprir metas, a trabalhar em grupo, da mesma forma que ensinamos conteúdos de Química, Sociologia, Geometria, Filosofia, Física, Artes ou Redação. E isso vale para todas as pessoas.
Não parece sensato, num momento em que discutimos como deve ser a escola do século XXI, que o debate continue a ser feito apenas a partir dos currículos tradicionais. É hora de pensar “fora da caixa”, para usar uma metáfora popular. Os resultados expressivos que programas de aprendizagem socioemocional têm obtido fora do Brasil indicam que as saídas para a Educação Básica podem não estar apenas onde imaginamos. Temos uma enorme oportunidade de, escutando as evidências científicas, pensar em soluções menos convencionais e contribuir de maneira mais efetiva para o projeto de vida de nossas crianças e jovens.
Celso Lopes de Souza é professor, médico psiquiatra e criador do Programa Semente