Especialistas da Semente Educação destacam a importância do letramento emocional para identificar a hora de pedir ajuda
Apesar de o debate estar mais amplo do que há alguns anos, o tema da saúde mental ainda é rodeado de tabus e estigmas. Foi nesse cenário que surgiu o movimento do Setembro Amarelo, para estimular as pessoas a buscar e a oferecer ajuda, antes que problemas maiores aconteçam.
Celso Lopes de Souza, médico psiquiatra e cofundador da Semente Educação, explica que a sociedade está hoje muito mais madura para entender que os sistemas do nosso organismo que produzem os sentimentos também ficam doentes. "Felizmente, existem muitos avanços na pesquisa sobre o tema, bem como possibilidades de tratamentos efetivos. O problema é que muitas pessoas ainda não buscam essas formas de ajuda", diz.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio aparece como a quarta causa de morte mais recorrente. E a maioria dos casos está relacionada a transtornos mentais, como a depressão e ansiedade – que poderiam ser tratados com auxílio de profissionais.
A importância do letramento emocional
Ana Carolina C D'Agostini, psicóloga e gerente de conteúdo da Semente Educação, relembra que, com a pandemia, o tema da saúde mental entrou pela porta da frente na mídia e na vida das pessoas, diante do aumento de casos de adoecimento (emocional) durante a crise sanitária. "Mas a aceitação da sociedade de que o sofrimento mental também é legítimo, assim como outras doenças, ainda é muito lenta", avalia.
Tanto Celso como Ana defendem que a informação é a principal forma de quebrar tabus e ampliar esse debate, contribuindo para mudar esse cenário. A sociedade precisa de letramento emocional, de acordo com os especialistas. "Quanto mais auxiliamos uma pessoa a aprender a nomear o que ela está sentindo e a reconhecer quando está fora do estado de equilíbrio, mais capaz ela se torna para identificar que existe um problema e que esse problema merece atenção", explica Ana.
Quando é hora de buscar ajuda?
Celso diz que é importante compreender que é absolutamente normal se sentir triste, com medo ou com raiva e não há como eliminar esses sentimentos. "Isso não quer dizer que a pessoa vai ficar paralisada pela tristeza ou pelo medo, nem ser arrastada pela raiva", diz.
Agora, quando o sofrimento tem uma intensidade maior e uma duração mais longa do que seria proporcional ao que o originou, temos um sinal de alerta. É importante perceber se essas emoções estão trazendo prejuízos para o próprio bem-estar, para os relacionamentos com outras pessoas ou para o trabalho ou os estudos.
Mas Celso lembra que não é necessário chegar ao ponto da doença para buscar ajuda. "Contar com psicólogas e psicólogos experientes, às vezes, muda uma história de vida e até evita a necessidade de intervenções farmacológicas, por exemplo", explica o psiquiatra, que ressalta que ainda há outras formas de cuidar da mente como prevenção, como a prática de exercícios físicos.
"Saúde mental não é o estado completo de felicidade ou ausência total de problemas, isso nem existe. Ela é a busca diária e recorrente de um equilíbrio, em que damos conta da maior parte dos desafios do dia a dia", acrescenta Ana.