Competências socioemocionais estão interligadas — habilidades de organização e planejamento podem ajudar a diminuir preocupações
Estudos sobre educação socioemocional realizados por renomadas universidades e instituições internacionais baseiam-se no modelo dos cinco fatores, que estabelece 17 competências essenciais agrupadas em cinco famílias: autogestão, abertura ao novo, modulação emocional, engajamento com os outros e amabilidade. Se parece impossível conseguir se dedicar a todas elas, a tarefa se torna mais fácil ao perceber que essas habilidades estão interligadas entre si.
Celso Lopes, médico psiquiatra e fundador da Semente Educação, cita duas importantes famílias de competências socioemocionais. “Uma é a autogestão, que é a capacidade de sermos executivos de nós mesmos. A outra é a modulação emocional, ou seja, nossa capacidade de encontrar a justa medida de sentimentos como medo, raiva e tristeza.”
Autogestão
No caso da família da autogestão, ela é composta por cinco competências:
- foco, ao saber colocar em primeiro lugar o que é mais importante;
- organização, que é a capacidade de planejamento;
- determinação, medida do empenho que é colocado nas atividades;
- persistência, habilidade necessária para não desistir dos objetivos;
- responsabilidade, ao cumprir o que é prometido.
“É como se fossem os elementos mínimos que constituem a capacidade máxima de sermos gestores de nós mesmos”, compara Celso. “Ninguém é 100% bom em tudo, mas é possível ‘alargar’ essas capacidades aos pouquinhos, primeiramente identificando o nível pessoal de desenvolvimento de cada componente.”
Por exemplo, alguém pode ser focado, mas não conseguir se planejar bem, demonstrando uma falha na organização, o que diminui o seu nível de autogestão. “Às vezes, a pessoa é focada, organizada, persistente e determinada, mas não cumpre aquilo que promete para si. Ela tem o planejamento muito bem-feito, para acordar tal horário de manhã e fazer atividade física, mas não consegue cumprir aquilo”, comenta o psiquiatra.
Modulação emocional e controle da ansiedade
Já o manejo da ansiedade é um dos componentes da modulação emocional. “Em especial, a família do medo, da qual a ansiedade e a preocupação fazem parte”. Celso propõe imaginarmos alguém com a família da autogestão muito bem desenvolvida para o momento de vida. “Essa pessoa é super organizada e planeja tudo, mas a vida não é uma linha reta, e as coisas nem sempre acontecem como ela gostaria. E aí surge uma enorme ansiedade por não conseguir entregar tudo aquilo que deseja.”
A partir disso, a pessoa tenta fazer cada vez mais, porque tem a responsabilidade muito desenvolvida. A ansiedade gerada causa a perda no sono, que é um dos caminhos para o burnout. “Por isso, é importante conseguir ter mais ‘jogo de cintura’, entender que, às vezes, é preciso rever o planejamento, pois as coisas não acontecem como gostaríamos que ocorressem”, pontua. Não se trata de deixar de ser organizado e focado, mas sim de conseguir controlar a ansiedade quando o planejamento não dá certo.
Equilíbrio entre as competências socioemocionais
O principal desafio na modulação emocional é conseguir transformar os sentimentos em ajuda, não obstáculo. Essa prática pode até mesmo influenciar o aprimoramento das demais famílias de competências socioemocionais, como a autogestão. Se um indivíduo sempre deixa de lado seus compromissos porque não se organiza bem, o medo de perder um emprego ou algum evento importante pode ser positivo para estimular uma mudança.
A recíproca também é verdadeira. Se a falta de dinheiro ou a agenda lotada está gerando ansiedade, é possível utilizar as habilidades de autogestão já fortalecidas para planejar melhor a vida. “Tentar reorganizar a agenda, olhar o extrato do banco, refazer contas, achar caminhos”, exemplifica o fundador da Semente Educação. “Ou seja, melhorar um pouco a autogestão para ajudar a manejar a ansiedade.”
Celso reforça que as competências socioemocionais são interligadas, e uma pode ajudar a outra. Ele também destaca que ninguém é uma ‘linha reta’ na vida, e que todos estamos em eterno aprendizado. “É importante sabermos o que podemos aprender e quais são as nossas fortalezas e os pontos de desenvolvimento”, finaliza.