Esportes de alto rendimento, como os das Olimpíadas, podem servir de inspiração para desenvolver competências relacionadas à autogestão e à modulação emocional
As Olimpíadas de Paris, em 2024, receberam mais de 10 mil atletas em suas diversas modalidades de competição. Para conseguir estar lá, já é preciso ser o suprassumo do suprassumo dos esportistas do mundo. Ainda assim, entre eles, apenas cerca de 300 saíram com uma medalha de ouro.
Segundo Celso Lopes, médico psiquiatra e fundador da Semente Educação, o segredo para isso, além das horas diárias de treino físico, é o exercício da inteligência emocional. “Se olharmos algumas características dos atletas olímpicos, principalmente dos medalhistas, vamos encontrar um show de evidências da mobilização de competências socioemocionais”, diz.
Um estudo da Universidade de Loughborough, na Inglaterra, analisou os níveis de estresse dos atletas olímpicos e concluiu que a resiliência psicológica é fundamental para a superação das dificuldades e da pressão imposta aos esportistas. Essa competência está presente em quase todas as histórias de vida e superação dos atletas.
"Trata-se da capacidade de superar adversidades e aprender com elas”, comenta o médico. “Quantos desses atletas não tiveram lesões ao longo de suas trajetórias e não tiveram que aprender com os próprios erros e derrotas em competições anteriores? Isso tudo é resiliência. E ela é feita de vários outros ingredientes socioemocionais”.
Modulação emocional
Para ser resiliente, segundo Celso, a pessoa tem que conseguir modular suas emoções desagradáveis -- o medo antecipado, a tristeza quando as expectativas são frustradas, a raiva de si mesmo ou de um árbitro injusto. “Modular no sentido de achar a justa medida. Não tem como não ficar ansioso e ansiosa, por exemplo, na ginástica artística, em que um único erro em poucos segundos pode comprometer o resultado”.
A família da modulação emocional, em vez de reprimir as emoções negativas, ajuda a utilizá-las para aumentar a performance e o desejo de se esforçar cada vez mais. “A ansiedade tem que estar no ponto que aumenta a capacidade de concentração”, afirma.
Autogestão
Existe uma série de “músculos” socioemocionais que os atletas olímpicos desenvolvem nessa área. Um exemplo é o foco. “Eles precisam focar muito no que estão fazendo e no momento que devem fazer”. Por exemplo, nas partidas finais da modalidade de tiro com arco, o atleta tem apenas 20 segundos para atirar três flechas — a distração nesse período não é uma opção.
A organização também é muito importante para o dia a dia olímpico, seja uma rotina de treinos e cuidados pessoais ou durante a recuperação de uma lesão. Além disso, há muita determinação envolvida, porque um atleta de alto desempenho precisa dar o máximo de si em todos os momentos. Já a persistência é parte integrante de alguém que tem uma disciplina dura de treinamento, assim como a responsabilidade de cumprir os compromissos assumidos.
“Ninguém é perfeito em tudo, mas não são só músculos corporais que se mostram nesses momentos”, destaca o especialista. “Ingredientes socioemocionais são parte fundamental de um atleta olímpico”. É importante lembrar que todas essas competências podem ser aprendidas ao longo da vida. O que varia de pessoa para pessoa é a facilidade ou dificuldade de aprendizado, mas sempre é possível se aprimorar.